Manchetes Socioambientais
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“O encontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio perpétuo do mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim.”
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos fundadores do ISA
O tema "Povos Indígenas" está na origem da existência do Instituto Socioambiental. Lá se vão pelo menos quatro décadas de comprometimento e trabalho com o tema, produzindo informações para a sociedade brasileira conhecer melhor seus povos originários. Desde sua fundação, em 1994, o ISA dá continuidade ao trabalho do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que havia sido iniciado em 1980 e que, por sua vez, remonta ao começo dos anos 1970, quando o então governo da ditadura militar lançava o Plano de Integração Nacional, com forte componente de obras de infraestrutura na Amazônia, região que era então descrita pelo discurso oficial como um "vazio demográfico".
Por meio dos relatos coletados, dados produzidos e pesquisas empreendidas por uma rede de colaboradores espalhada pelas diversas regiões do País, o Cedi ajudou a derrubar essa tese. Ao dar publicidade às informações levantadas por essa rede social do tempo do telex, o Cedi colocou, definitivamente, os povos indígenas e suas terras no mapa do Brasil. Seus integrantes ainda participaram ativamente no movimento de inclusão dos direitos indígenas na Constituição de 1988 e, juntamente com integrantes do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI) e ativistas ambientais, fundaram o ISA em 1994.
De lá para cá, ampliando sua rede de colaboradores em todo o País, o ISA se consolidou como referência nacional e internacional na produção, análise e difusão de informações qualificadas sobre os povos indígenas no Brasil. O site "Povos Indígenas no Brasil", lançado em 1997, é a maior enciclopédia publicada sobre as etnias indígenas no Brasil, com suas línguas, modos de vida, expressões artísticas etc. O site é uma das principais referências sobre o tema para pesquisadores, jornalistas, estudantes e acadêmicos.
A atuação hoje é transversal aos territórios onde atuamos, especialmente na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e Pará, e Bacia do Rio Negro, no Amazonas e Roraima, e também envolve povos indígenas de todo o Brasil, por meio da atualização permanente do site e de seus mais de 200 verbetes, inclusão de novos textos sobre etnias emergentes e indígenas recém-contatados, além do monitoramento e cobertura jornalística sobre situações de violência e perda de direitos contra estas populações. O tema "Povos Indígenas" ainda é tratado no site "PIB Mirim", voltado ao público infanto juvenil e de educadores.
O monitoramento de Terras Indígenas também é um eixo central do nosso trabalho com o tema, e remonta à sistematização de dados e divulgação de informações iniciada pelo Cedi em 1986, e se dá por meio da produção de livros impressos e mapas temáticos sobre pressões e ameaças, como desmatamento, mineração, garimpo, obras de infraestrutura, entre outras, além do site "Terras Indígenas no Brasil".
Confira os conteúdos produzidos sobre este tema:
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Em formato de enciclopédia, é considerado a principal referência sobre o tema no país e no mundo |
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A mais completa fonte de informações sobre o tema no país |
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Site especial voltado ao público infanto-juvenil e de educadores |
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Painel de indicadores de consolidação territorial para as Terras Indígenas |
Encontro celebrou os dez anos da Enciclopédia de Antropologia e a trajetória de três projetos de enciclopédias digitais na preservação e difusão do conhecimento
Para celebrar os dez anos da Enciclopédia de Antropologia (EA) do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), no dia 29 de maio, foi realizada a mesa-redonda Enciclopédias digitais em ação: artesanias, tecnologias, colaborações. O evento, organizado pelo Laboratório Etnográfico de Estudos Tecnológicos e Digitais (Letec) da USP, destacou três experiências de enciclopédias digitais para uma troca sobre a produção destes projetos – a Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil, do Instituto Socioambiental (ISA), foi uma delas juntamente com a Bérose, encyclopédie internationale des histoires de l’anthropologie e a Wikipedia.
Na mesa, estiveram presentes as professoras Fernanda A. Peixoto (USP) e Carolina Parreiras (LETEC/USP), além dos pesquisadores André S. Bailão (EA);Tatiane M. Klein (PIB/ISA); e Isabela Tosta (Labjor/Unicamp). Sediado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o debate abordou as diferentes formas de produzir, a autoria e produção coletiva dos verbetes, os usos e as transformações enfrentadas pelos projetos ao longo do tempo e as novas tecnologias de inteligência artificial.
Online desde 1997, a Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil é um projeto pioneiro que disponibiliza informações sobre os povos e a temática indígena em mais de 220 verbetes escritos por diversos colaboradores, não indígenas e indígenas. Tatiane Klein, atual editora responsável, resgatou a história do projeto que, segundo ela, tem rastros analógicos que datam mais de 40 anos atrás e envolvem um trabalho feito por várias pessoas ao longo dos anos, sob os auspícios de seus criadores: Beto Ricardo e Fany Ricardo, antropóloga que também esteve presente no evento.
Parte dessa história é contada no longa-metragem ‘Mapear Mundos’, cujo trailer foi exibido durante a mesa-redonda. O filme, a partir de imagens e vídeos do acervo histórico do ISA e testemunhos, retrata a trajetória dessa pesquisa-movimento sobre o Brasil indígena, além da luta travada pelos fundadores do ISA e por povos e organizações indígenas, como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), pela garantia dos direitos indígenas na Constituição de 1988.
Tatiane Klein conta que, no período entre o fim da ditadura militar e a redemocratização do país, as informações sobre povos indígenas e suas terras eram escassas, o que levou Fany e Beto Ricardo a construírem uma rede de pessoas colaboradoras, que respondiam fichas de levantamento com os dados sobre as comunidades que visitavam.
Esses dados reunidos pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) deram origem a uma série de publicações impressas que apresentavam os povos indígenas por áreas culturais, e o Aconteceu, que mais tarde seria continuada pelo ISA, com a série de livros Povos Indígenas no Brasil. Acesse todas as edições aqui!
“De certa forma, esse projeto de pesquisa tão longevo articula a academia, a sociedade civil, organizações indígenas, movimento indígena e hoje pesquisadores indígenas que estão na universidade num grande objetivo de ‘colocar os povos indígenas no mapa’”, afirmou, citando a frase cunhada por Beto Ricardo nos anos 1980.
Confira “Uma enciclopédia nos trópicos – memórias de um socioambientalista”, livro de Beto Ricardo e Ricardo Arnt.
Tatiane lembra que, em 2027, o site completará 30 anos: “Esperamos seguir construindo soluções colaborativas que ajudem a promover a autoria indígena e a responder às novas configurações da nossa rede de colaboradores”, finalizou.
Projetos em diálogo
A Enciclopédia de Antropologia, que organizou a mesa-redonda em comemoração ao seu décimo aniversário, é um projeto criado pelo Departamento de Antropologia da USP que conta com verbetes sobre autores, obras, conceitos, correntes, subcampos e instituições da Antropologia. Sua criação aconteceu a partir de uma discussão coletiva entre alunos e professores de transformar os trabalhos finais em verbetes disponíveis para o grande público.
“Ela tem essa cara da sala de aula, que está sempre se transformando a partir das ideias que são discutidas na sala de aula, dos autores e textos que estão sendo lidos conjuntamente, a partir dos próprios temas de pesquisa das pessoas. Então ela não tem exatamente aquela cara de enciclopédia clássica em que se fazia uma encomenda de assuntos que eram considerados obrigatórios pelos editores e coordenadores das enciclopédias” explicou André Bailão, antropólogo e um dos coordenadores do projeto.
A professora Fernanda A. Peixoto, que também coordena o projeto e integra a enciclopédia Bérose, destaca que a EA funciona como uma espécie de ateliê de escrita. “Para os nossos alunos treinarem também uma nova modalidade de escrita e pensarem para quem eles estão escrevendo. Então tem caráter de formação do autor e da autora”.
Segundo a docente, a Bérose, por sua vez, é um projeto de origem francesa que tem buscado uma alcançar uma face mais mundial e principalmente fazer “proliferar histórias da antropologia, com uma ideia de mapeamento do que se faz Japão, na Itália, na Espanha, no Brasil, nos países europeus”, exemplifica. “Ela encomenda textos, mas recebem também colaborações voluntárias de autores que estejam interessados nas histórias das antropologias”, completa.
Isabela Tosta, do Labjor/Unicamp, trouxe à mesa de debate a experiência com a Editatona Antropológica, uma oficina de criação e edição de verbetes de antropologia na Wikipédia – uma enciclopédia online colaborativa em que qualquer pessoa pode criar uma conta e editar. “E nisso reside seu grande poder, porque ela atende à democratização de conhecimento”, destaca.
Coordenada pela professora Carolina Parreiras, essa Editatona aconteceu em novembro de 2024 e enfocou os trabalhos na construção e aprimoramento de verbetes de mulheres antropólogas – pouco representadas entre os conteúdos sobre pesquisadores da área. Ela explica que a motivação era, além de criar conteúdos que sejam ao mesmo tempo acadêmicos e acessíveis ao grande público, “a ideia era tentar colocar encontrar quais são os silêncios, quais são os verbetes que faltam, quais são as categorias que não estão compreendidas ali, de forma que os alunos pudessem compreender como determinados marcadores sociais não são tão contemplados na criação dos verbetes”.
Segundo as pesquisadoras, a oficina foi um grande sucesso, porque as pessoas estavam interessadas em contribuir para a distribuição de conhecimento e para a criação, melhora e a tradução de páginas de conteúdos sobre essas mulheres antropólogas. Como resultado, foram produzidos os verbetes materiais com licenças livres, que os leitores podem ler, compartilhar, copiar ou modificar os conteúdos livremente.
“Eu acho muito importante trazer isso à tona porque são iniciativas que não visam lucro, que não visam algoritmização. Então, a gente está na contra-mão da produção de conhecimento e de como ele vem sendo colocado na nossa contemporaneidade”, defendeu Isabela Tosta.
Sobre o uso da inteligência artificial, Carolina Parreiras trouxe reflexões sobre a possibilidade de que os verbetes disponibilizados na Wikipedia, por exemplo, sirvam como base de dados para treinamento dos modelos de inteligência artificial, ajudando a combater a questão dos vieses de gênero e raça. “A gente tem um problema não só no modelo de programação das plataformas, mas também nas bases de dados que temos acessíveis, inclusive para criar conhecimento e com a inteligência artificial, isso é potencializado”, apontou.
O evento também contou com a participação da Enciclopédia Itaú Cultural e com a presença do público da XIX Semana de Ciências Sociais da USP, "Ciências sociais: para quem? Trajetória, currículo e realidade no Brasil", que aconteceu entre os dias 26 e 30 de maio de 2025.
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Um grupo de 15 indígenas Yanomami e Ye’kwana participou das conversas com objetivo de estruturar uma rede de cuidados da saúde da mulher
Quinze mulheres Yanomami e Ye’kwana que atuam como Agente Indígena de Saúde (AIS) na Terra Indígena Yanomami participaram, na última semana de maio, de uma formação em cuidados relacionados ao câncer de colo de útero em mulheres. A ação faz parte de um planejamento de estruturação da saúde para mulheres da maior Terra Indígena do Brasil.
As participantes vivem e atuam nas regiões de Auaris, Waikás, Kutadanha, Maturacá, Inambu e Nazaré. Entre elas, estava Jucelia Magalhães Rocha, jovem Ye’kwana de Fuduuwaaduinha.
“Eu vou chamar a comunidade toda, passar de casa em casa e fazer um roteiro no malocão para explicar como prevenir o câncer de colo de útero”, contou. Agente de saúde há quase três anos, Jucelia já perdeu duas parentes para a doença, incluindo sua tataravó. Este foi seu primeiro treinamento específico sobre o tema.
A formação foi promovida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Distrito Especial de Saúde Indígena Yanomami (DSEI-Y), com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e do Instituto Socioambiental (ISA).
Paralelamente, médicas, enfermeiras e técnicas do DSEI-Y também passaram por capacitação, com foco em abordagens ginecológicas adequadas às especificidades das mulheres indígenas.
“A pauta pela reestruturação da saúde da mulher vem sendo reivindicada historicamente pelas mulheres Yanomami e Ye’kwana e por isso integrantes do Dsei, da Unifesp/Projeto Xingu, UFMG, ISA e Hutukara se reúnem há pelo menos dois anos para pensar uma rede de atores em colaboração, para atender as reivindicações das mulheres Yanomami”, explica Manuela Sturlini, analista do ISA.
Marilene Gama da Silva, de Maturacá, trabalha como AIS há uma década. Habituada a atender outras mulheres indígenas, ela afirma que nunca precisou lidar com um caso de câncer de colo de útero, mas o treinamento vai ajudá-la a manter as parentes atentas aos cuidados para prevenir a doença.
“Tem sido muito importante e precisa dar continuidade para aprendermos e tirarmos dúvidas. Espero que aconteça mais vezes em outras regiões para ensinar como podemos trabalhar nas comunidades”, contou.
Marilene planeja fazer uma palestra ao retornar para Maturacá a fim de multiplicar as pessoas com informações sobre a prevenção do câncer do colo de útero em sua região.
Para Mariana Queiroz, coordenadora técnica do projeto “Construção da Linha de Cuidado do Câncer do Colo do Útero no DSEI Yanomami e Ye'kwana", é necessário construir estratégias que visem todas as etapas para prevenção da doença: rastreamento, diagnóstico e tratamento das lesões precursoras do câncer.
“Este projeto visa fortalecer a saúde das mulheres e combater um grave problema de saúde que é o câncer de colo de útero. Na região Norte, o CCU é o que mais mata mulheres, esses dados apontam as fragilidades no cuidado ofertado às mulheres desta região”, explicou.
Os processos descritos por Mariana fazem parte de um conjunto de ações que serão desenvolvidas ao longo de três anos. Como parte final da oficina, as Yanomami e Ye’kwana produziram uma cartilha informativa sobre saúde da mulher.
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Gratuita, atividade será conduzida por Elizângela Baré e tem contribuição voluntária em apoio a crianças com câncer
O espaço Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA), participa neste sábado (24/05) da Virada Solidária da Galeria Metrópole — uma programação especial dentro da Virada Cultural 2025 que reúne ações culturais com propósito social — com duas oficinas de arte tradicional das mulheres Baré, conduzidas por Elizângela Baré.
Nascida na Terra Indígena Cue-cue Marabitanas, no Alto Rio Negro, Elizângela Baré é uma mulher indígena, artesã, agricultora, mãe, professora, liderança, falante da língua nheengatu e pesquisadora indígena. Atualmente, ela faz Doutorado em Saúde Pública na Universidade de São Paulo (USP).
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As atividades acontecem em dois horários — às 10h e às 14h — e oferecem ao público a oportunidade de conhecer elementos tradicionais da cultura Baré, como os fios de tucum e as sementes nativas. Serão produzidos colares, brincos e pulseiras, enquanto se compartilham os significados culturais e os modos de confecção de cada peça.
A participação é por ordem de chegada, sujeita à lotação, sem necessidade de inscrição ou compra prévia de materiais. Será sugerida uma contribuição simbólica, destinada à Organização Beabá, que apoia crianças em tratamento contra o câncer.
O ano de 2025 marca a 20º edição da Virada Cultural, um evento que situa a cidade de São Paulo em seu âmbito multicultural. Com o tema "20 anos em 24 horas", a Secretaria Municipal de Cultura remete aos primeiros anos do evento, ao mesmo tempo que expressa uma continuidade da iniciativa, oferecendo uma ampla gama de atrações.
Vale lembrar que durante a Virada Cultural o transporte público funciona de forma ininterrupta, facilitando o acesso popular às atividades.
Oficina:
Local: Espaço Floresta no Centro – Loja 28, 2º andar da Galeria Metrópole, Avenida São Luis, 187, São Paulo/SP.
Data: 24/05/2025
Horários: 10h00 e 14h
Evento Presencial | Colaboração voluntária
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Articulação do movimento indígena rumo à conferência do clima foi tema do 21º ATL e teve como ponto alto o lançamento da Comissão Internacional Indígena para a COP30
A participação de povos indígenas do Brasil e da América Latina na Conferência das Nações sobre Mudanças do Clima (COP30), que acontecerá em novembro deste ano, em Belém-PA, é o tema do novo episódio do boletim de áudio “Vozes do Clima” lançado nesta sexta-feira (09/05), em todas as plataformas de áudio. O assunto foi amplamente debatido durante o 21º Acampamento Terra Livre (ATL), maior evento indígena do mundo, ocorrido no início de abril, em Brasília.
O “Vozes do Clima” traz o ponto alto do debate, que foi a plenária “A resposta somos nós: povos indígenas rumo à COP30", com a presença de diversas lideranças indígenas nacionais e internacionais, representantes de organizações parceiras, autoridades do governo federal e parlamentares. Na ocasião, foram lançadas a Comissão Internacional Indígena para a COP30 e a Contribuição Nacionalmente Determinada Indígena (NDC).
O novo episódio traz contribuições de lideranças e autoridades sobre a necessidade de ampla articulação para garantir que as demandas e as vozes indígenas sejam ouvidas durante a conferência do clima de Belém. O principal recado é que os povos indígenas lutam e se articulam para ter sua participação assegurada nas decisões globais sobre o enfrentamento à crise climática, determinantes para o futuro da humanidade.
Maior participação indígena
Uma das lideranças presentes no “Vozes do Clima” é Kleber Karipuna, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e representante da Aliança Global de Comunidades Territoriais, que disse esperar que a COP de Belém seja a maior em participação indígena. Ele também destacou a importância da luta do movimento nas ações de combate às mudanças climáticas.
“O lançamento desta comissão internacional é fruto da nossa luta, da nossa articulação, do nosso movimento conjunto da APIB, da Aliança Global, com todos os atores que fazem parte da luta do movimento indígena. Só é possível essa articulação, porque nós estamos fazendo parte desse processo de diálogo e de discussão com o governo, com os mecanismos internacionais, com a UNFCCC, com outros atores para garantir essa nossa presença na COP de Clima e levarmos a nossa voz”, ressaltou.
Sineia do Vale, indígena do povo Wapichana e co-presidente para América Latina e Caribe do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas (Caucus Indígena), explicou que a Comissão Internacional atende ao esforço das organizações indígenas de levar para a COP de Belém povos não só do Brasil mas de toda a América Latina.
“Enquanto presidente do Caucus Indígena pela América Latina e Caribe, estou também organizando para garantir a melhor participação global dos povos indígenas nesse espaço tão importante. E nós estamos aqui junto com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), com a Apib, onde cada um já tem suas comissões para trabalhar melhor como nós vamos chegar nesse espaço”, garantiu.
Atuação do governo
A Comissão Internacional Indígena para a COP30 será presidida pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que explicou como será a organização e a composição deste espaço.
“Nós teremos nessa comissão as representações do Fórum Permanente da ONU, do Caucus Indígena, da plataforma de povos indígenas e comunidades locais, da Aliança Global, da representação da Bacia Amazônica e do movimento indígena brasileiro por meio da APIB, da Anmiga (Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade) e da Coiab, que é a anfitriã também indígena da COP que acontecerá na Amazônia. É um espaço onde nós vamos levar essa força dos povos indígenas, não só do Brasil, mas dos povos indígenas do mundo”, contou.
Já a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforçou os compromissos assumidos pelo governo federal e destacou a importância da luta dos povos indígenas.
“O presidente Lula tem um compromisso de desmatamento zero até 2030. Tem o compromisso de que nós vamos ter uma NDC de 67% de redução de emissão de CO2 para todos os setores: agricultura, indústria, transporte, energia. Mas isso não é algo que é feito por um governo. Isso é algo que é feito pela força transformadora de um povo”.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, falou do seu orgulho de conduzir os trabalhos da COP30 com a possibilidade de ouvir lideranças indígenas de todo o país.
“Vocês dão uma dimensão ao Brasil que só me enche de orgulho e eu acho que nenhum presidente da COP teve o privilégio de estar cercado por pessoas como vocês. Vocês nos inspiram, vocês inspiram o mundo e essa COP vai abraçar vocês e vocês tem que abraçar essa COP”.
Apoio da sociedade civil
Em entrevista ao “Vozes do Clima”, a secretária executiva do ISA, Adriana Ramos, ressaltou a importância da articulação do movimento indígena nacional e internacional para construir formas de manifestação e de participação nos debates da COP 30. Ela também reafirmou o compromisso do ISA de apoiar povos e comunidades tradicionais em iniciativas preparatórias para a conferência de Belém.
“O ISA tem buscado apoiar as suas organizações parceiras no sentido de fortalecer essa luta e essa presença constante para que essa perspectiva indígena também esteja presente nos debates da COP. Nós, inclusive, estamos trabalhando na sistematização das experiências que desenvolvemos ao longo desses 30 anos para contribuir com exemplos concretos que demonstrem que não há como solucionar a crise climática sem buscar inspirações, conhecimentos, modos de fazer que os povos indígenas, as comunidades quilombolas e comunidades tradicionais têm desenvolvido e que no Brasil são tão evidentes”, explicou.
Escute aqui!
O que é o “Vozes do Clima”?
O boletim de áudio “Vozes do Clima” é uma realização do ISA, com produção da produtora de podcasts Bamm Mídia e apoio da Environmental Defense Fund (EDF) e propõe levar informações a povos e comunidades tradicionais sobre os temas relacionados à pauta climática. A identidade visual foi concebida pelas designers e ilustradoras indígenas Kath Matos e Wanessa Ribeiro. Além de ser distribuído via Whatsapp e Telegram, o programa também poderá ser ouvido nas plataformas de áudio Spotify, iHeartRadio, Amazon Music, Podcast Addict, Castbox e Deezer.
Este é o segundo da segunda temporada do “Vozes do Clima”, que contará com um total de 12 edições e abordará os diversos debates sobre clima e socioambientalismo.
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Artesanatos, comidas, cantos e danças tradicionais marcaram a celebração na Casa do Saber, em São Gabriel da Cachoeira
Com o tema “História Viva, Movimento Indígena, Resistência e Conquistas Coletivas”, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) reuniu lideranças, parceiros e convidados no dia 30 de abril, em sua Casa do Saber, para a celebração dos 38 anos de fundação da instituição que representa os 23 povos indígenas do Rio Negro. Artesanatos, comidas, cantos e danças tradicionais marcaram a celebração, que exigiu cuidados redobrados devido ao aumento de casos de Covid-19 registrado em São Gabriel da Cachoeira nas últimas semanas. O uso de máscaras foi obrigatório, e álcool em gel foi disponibilizado nos espaços.
As boas-vindas ao evento foram feitas pelos jovens comunicadors da rede Wayuri, Imaculada Moreira, do povo Tukano, e Nayra Sthefany, do povo Baniwa, e pela articuladora do Departamento de Jovens, Mariete Pompilho, do povo Baré, nas línguas tukano, baniwa e nheengatu, respectivamente. O benzimento e a apresentação cultural do povo Tuyuka com a Dança de Cariçú também marcaram a abertuvou tentarra da festividade.
Além da atual diretoria da Foirn, representantes de instituições parceiras, públicas e privadas, e lideranças que marcaram a história da Foirn também compuseram a mesa de autoridades.
Sócio-fundador e membro da primeira diretoria da Federação, Pedro Garcia, do povo Tariana, lembrou das dificuldades e pressões sofridas à época, a exemplo de garimpeiros e empresas mineradoras, que motivaram a união e o diálogo dos 23 povos em prol da defesa do território, dando origem à federação em 1987, em assembleia realizada no ginásio da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, que reuniu mais de 400 lideranças indígenas que vinham se organizando desde a década de 1970.
“O movimento não parou, continua vivo! Espero que os novos diretores, as novas pessoas que vêm, continuem levando essa mensagem de vida, da cultura, da riqueza do nosso povo”, desejou Pedro, que foi ainda o primeiro prefeito indígena de São Gabriel da Cachoeira (2009–2012) e, como ele destaca, fruto também da luta do movimento indígena. O atual prefeito da cidade, Egmar Saldanha, o Curubinha, do povo Tariana, também esteve presente no evento.
Liderança histórica no Rio Negro, Maximiliano Correa Menezes, do povo Tukano, falou da importância da maloca Casa do Saber, na sede da Foirn, como um espaço e símbolo de articulação nas lutas e celebração das conquistas. “Aqui a gente resolve do nosso jeito, falamos na nossa linguagem, falamos nas nossas línguas. Se no primeiro momento, ao longo da criação da federação, o lema era terra e cultura, a terra a gente lutou, brigou com o governo, para que o governo reconhecesse essa terra. E essa casa aqui recebeu o ministro da Justiça, que entregou, nas mãos do presidente da Federação das Organizações do Rio Negro, o Pedro Garcia, o decreto da demarcação das terras indígenas. Então, essa casa tem história, essa casa aqui, a Casa do Saber.”
Após 25 anos da criação da Foirn, Almerinda Ramos de Lima, do povo Tariana, foi a primeira mulher eleita para a presidência da entidade (2013–2016). Em seu discurso, ela destacou os desafios enfrentados ao longo das décadas, o fortalecimento da Foirn por meio da gestão compartilhada e a importância da continuidade das lutas coletivas. “Resistiremos sempre. Virão nossos jovens que ocuparão os cargos, tanto aqui na Foirn quanto nas esferas de governo. Esse é o nosso anseio, porque nós precisamos de pessoas que defendam os nossos direitos, que lutem por nós, por todos os nossos direitos conquistados, que hoje são ameaçados, e a gente precisa se fortalecer”, destacou.
Representando o Instituto Socioambiental (ISA), Ana Letícia Trindade, assessora em Gestão, ressaltou a importância das conquistas alcançadas ao longo da trajetória da Federação — além das demarcações dos territórios, os avanços nas áreas de saúde e educação, a participação ativa na construção da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas (PNGATI), a consolidação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) em todas as terras da área de abrangência da federação e o protagonismo na formulação de políticas alimentares que contribuem para a segurança alimentar dos territórios.
“A gente comemora junto essas vitórias porque elas não fazem a diferença só aqui no Rio Negro, mas também em todos os territórios tradicionais do Brasil e impactam todo o mundo. A Foirn tem essa vocação de conseguir ouvir a sua base e dar voz às necessidades dos povos indígenas”, declarou.
Em sua fala, o presidente da Federação, Dário Casimiro, do povo Baniwa, destacou a importância da entidade para a articulação política e ressaltou o crescimento da rede de governança, que hoje conta com 118 associações de base, do alto ao baixo Rio Negro, tendo como grande desafio a extensa área territorial.
Dário também enfatizou o papel da Foirn e dos povos do Rio Negro na preservação ambiental e na valorização dos conhecimentos ancestrais, fundamentais para a gestão dos territórios indígenas. “Nós manejamos o mundo. Então, a essência, a história, os conhecimentos ancestrais são fundamentais, porque é dali que buscamos a nossa fortaleza, a nossa confiança e o nosso compromisso de sermos protagonistas no processo histórico”, disse o presidente, destacando a parceria histórica da Federação com o ISA nesse processo.
Entre os avanços recentes, mencionou a criação do Fundo Indígena do Rio Negro como estratégia para garantir a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs). Ao final, reforçou a importância das parcerias institucionais no fortalecimento das ações da Foirn e defendeu o engajamento contínuo das lideranças e comunidades para assegurar os direitos das futuras gerações.
Ao final do dia, o médico e escritor Drauzio Varella, que já fez mais de 100 incursões pelo Rio Negro, contou sobre sua relação com a região, que originou o livro O Sentido das Águas – Histórias do Rio Negro (Companhia das Letras), inspirado pelas narrativas escutadas nas viagens e lançado durante a celebração do aniversário da Federação.
Drauzio relatou como se encantou pelas histórias de vida dos moradores, especialmente de um jovem tukano chamado Maxiliano, que lhe contou sobre a canoa de transformação. Ao reencontrar Maxiliano anos depois, ali no evento, contou tê-lo reconhecido pela voz. “Aí vejo aqui chamando o senhor Max, ele está de máscara e não o reconhecia. Mas quando ele falou hoje, eu falei: ‘É ele, não é possível, eu conheço essa voz’. Reconheci o senhor Max pela voz”, revelou.
Drauzio refletiu sobre a complexidade da região, que considera profundamente desconhecida por grande parte dos brasileiros. Para ele, a Amazônia é resultado tanto da ação da natureza quanto do manejo ancestral dos povos indígenas, e esse conhecimento precisa ser reconhecido e valorizado diante das narrativas históricas coloniais.
O encerramento da festa contou ainda com as apresentações das agremiações Tribo Baré, Tribo Tukano e Filhos do Rio Negro, que se apresentam anualmente no Festival Cultural das Tribos Indígenas do Alto Rio Negro, o Festribal. Por fim, houve o desfile de peças de vestuário, acessórios e utensílios da Casa de Produtores Indígenas do Rio Negro Wariró.
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Campanha "Brasil Indígena, Terra Demarcada" destaca papel dos povos indígenas na preservação ambiental e defende direitos previstos na Constituição
Em ação pelo Dia dos Povos Indígenas, neste 19 de abril, a campanha "Brasil Indígena, Terra Demarcada" lança um vídeo mobilizador com participação de Anitta, Juliette, Glória Pires, Marcos Palmeira, Dira Paes, Klebber Toledo e Alejandro Claveaux. Todos os artistas cederam suas imagens gratuitamente.
A iniciativa — liderada pela Mídia Indígena, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e o Instituto Socioambiental (ISA) — reforça a importância da demarcação de Terras Indígenas como medida urgente para proteger o futuro do Brasil.
O vídeo ressalta o papel essencial dos povos indígenas na preservação ambiental, sobretudo na proteção de florestas e manutenção das chuvas que viabilizam as atividades agropecuárias. Também destaca que as Terras Indígenas apresentam os menores índices de desmatamento e armazenam quantidades significativas de carbono, sendo estratégicas no combate à crise climática.
Assista ao vídeo:
“Todo dia a casa dos povos indígenas transpira 5 bilhões de toneladas de água. Lá também se armazenam 13 bilhões de toneladas de carbono”
Além disso, o vídeo valoriza a presença ancestral dos povos originários nos diversos biomas do país, sua riqueza cultural e linguística e o direito constitucional à demarcação de seus territórios. A mensagem final é um apelo contundente contra a tese do marco temporal e em defesa dos direitos garantidos pela Constituição Federal.
“Aqui no Brasil é assim, se você não tem sangue indígena nas mãos… eu e você temos que defender o sangue indígena nas veias.”
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Lideranças indígenas realizam diálogo dia 24/4 sobre cuidados, cura e território no Espaço Floresta no Centro, do ISA
Encerrando o mês de abril — marcado pela luta dos povos indígenas — o Espaço Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA) recebe, no dia 24 de abril, um encontro potente entre mulheres que são referência na valorização dos conhecimentos de seus povos: Ehuana Yanomami e Geni Núñez. A conversa contará com a mediação e tradução de Ana Maria Machado, antropóloga e indigenista que atua em defesa do povo Yanomami há mais de 10 anos.
Ehuana Yanomami é professora, artista, escritora e liderança feminina do povo Yanomami. Co-autora do livro "Yipimuwi thëã oni - Palavras escritas sobre menstruação", de 2017, ela compartilha sua trajetória, saberes e formas de organização das mulheres yanomami em um contexto de resistência frente às ameaças constantes do garimpo ilegal em seu território.
Os trabalhos artísticos de Ehuana Yanomami já percorreram museus em diversas partes do mundo, com exposições na China, EUA, França, Espanha e outros países. Seu talento foi revelado ainda jovem, quando seus primeiros desenhos foram publicados no livro “Hwërɨmamotima thë pë ã oni: Manual dos remédios tradicionais Yanomami”, lançado em 2015, que reúne os saberes ancestrais sobre plantas medicinais de seu povo.
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Ehuana Yanomami, fortalecendo os conhecimentos tradicionais e defendendo seu território!
Geni Núñez é psicóloga, escritora, pesquisadora e ativista guarani, autora do livro “Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar” e “Felizes por enquanto: escritos sobre outros mundos possíveis”. Geni traz reflexões sobre como podemos construir relações que rompam com as lógicas coloniais, abrindo caminhos para a escuta, o cuidado e o reconhecimento entre mundos.
Mais que uma conversa, o evento propõe oferecer ao público uma troca de vivências entre mulheres indígenas que habitam diferentes territórios, mas que compartilham lutas comuns. Uma oportunidade rara de se aproximar das formas de vida, cura, resistência e amor cultivadas pelos povos indígenas.
Conheça e celebre a luta das mulheres yanomami e guarani!
Serviço:
📍 Local: Espaço Floresta no Centro – Loja 28, 2º andar da Galeria Metrópole, Av São Luis 187, São Paulo/SP.
📅 Data: 24/04/2025
🕖 Horário: 19h00
🎟️ Evento gratuito | Presencial
🌿 Conheça o trabalho do ISA: socioambiental.org
🛍️ Apoie e aproveite: loja.socioambiental.org
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Mediado por Joziléia Kaingang, evento busca fortalecer o protagonismo e diversidade do movimento indígena de mulheres no Acampamento Terra Livre
Como forma de celebrar e fortalecer a atuação das mulheres indígenas na defesa de direitos, territórios e modos de vida, na próxima quarta-feira (09/04), às 11h, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e o Instituto Socioambiental (ISA) promovem a roda de conversa “Quem faz as organizações de mulheres indígenas?”.
Acompanhe a cobertura do ISA no ATL 2025
O evento será na tenda da Anmiga, durante a 21ª edição do Acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena do país que acontece entre os dias 7 e 11 de abril. Sob o tema “Apib Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida”, o ATL deste ano celebra os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e deve reunir cerca de oito indígenas de mais de 200 povos do Brasil e do mundo.
Com mediação de Joziléia Kaingang, diretora-executiva da Anmiga, o debate reunirá lideranças dos seis biomas brasileiros como Elisa Pankararu, coordenadora na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), da Caatinga; Val Eloy, ativista do povo Terena e co-fundadora da Anmiga, do Pantanal; O-é Kaiapó, liderança, assistente social e co-fundadora da Anmiga, da Amazônia; Kerexu Yxapyry, co-fundadora da Anmiga e liderança da Terra Indígena Morro dos Cavalos, da Mata Atlântica; e Watatakalu Yawalapiti, ativista, empreendedora e integrante do Movimento das Mulheres Indígenas do Território do Xingu (MMTIX) e da coordenação de mulheres da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX Mulher).
A conversa surge a partir do Mapa das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil 2024, lançado no último ano.
Uma realização da Anmiga em parceria com o ISA, o Mapa é um levantamento inédito, que reúne, além das organizações de mulheres, artigos que se debruçam sobre a forma, as pautas e as motivações das mulheres indígenas organizadas e também como a Anmiga tem desenvolvido conceitos próprios para pensar o presente das mulheres indígenas na política.
O Mapa identificou a presença de 241 organizações em todos os estados brasileiros e o crescimento em mais de duas vezes do movimento organizado das mulheres indígenas no Brasil.
A roda colocará em pauta as diferentes formas e razões que levam as mulheres indígenas a se mobilizarem. Outro tema que será debatido, a partir de dados dos recentes relatórios desenvolvidos pelo ISA sobre o desmatamento nos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa, é a importância das mulheres na gestão territorial e na recuperação das áreas desmatadas.
Sobre a Anmiga
Articuladora da Marcha das Mulheres Indígenas e parceira na produção do mapa, a Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
Serviço
O quê? Roda de Conversa: “Quem faz as organizações de mulheres indígenas?”
Onde? Tenda da Anmiga no 21º Acampamento Terra Livre, que será sediado no Complexo Cultural da Funarte, em Brasília.
Quando? Na quarta-feira, dia 9 de abril, às 11h
Contato: Mariana Soares (marianasoares@socioambiental.org)
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Maior mobilização indígena do país acontece em Brasília, entre 7 e 11 de abril, e deve reunir mais de oito mil pessoas
De 7 a 11 de abril, lideranças dos mais de 300 povos indígenas de todas as regiões do Brasilvão ocupar Brasília (DF) na 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena do país.
Acompanhe a cobertura do ISA no ATL 2025
O encontro anual também marca e celebra os 20 anos de lutas e vitórias da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e tem como tema “APIB somos todos nós: Em defesa da Constituição e da vida”.
No centro das discussões estão a defesa dos direitos indígenas, de suas terras, cultura e identidade, protegidos pela Constituição de 1988, e a resistência contra a mineração nessas áreas.
Entre outras reivindicações estão: o reconhecimento dos indígenas na proteção da biodiversidade; a demarcação de terras indígenas como uma política climática fundamental e prevista nas metas climáticas do Brasil.
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No último dia 2, quarta-feira, a última audiência prevista da comissão de conciliação sobre o marco temporal das demarcações no Supremo Tribunal Federal (STF) acabou sem consenso entre povos indígenas, ruralistas, representantes de estados e municípios, governo, partidos de esquerda e Ministério Público.
Dos 31 artigos na mesa do anteprojeto de lei apresentado pelo ministro Gilmar Mendes, em apenas dois houve acordo até o momento. A expectativa agora é saber o que ele fará em relação à proposta e o colegiado. A decisão pode sair nos próximos dias, exatamente quando acontece o ATL. A ideia original era encaminhar um texto consensual para o plenário da Corte e, se aprovado, para o Congresso.
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COP 30: ação para reconhecimento do protagonismo indígena na solução
A campanha “A Resposta Somos Nós”, que direciona esforços para a COP 30 - que acontece de 10 a 21 de novembro em Belém (PA) - também será um dos destaques do encontro. São esperados cerca de 8 mil indígenas do Brasil e do mundo na capital federal.
Duas décadas de luta
A Apib, criada no ATL de 2005, é uma instância de referência nacional do movimento indígena no Brasil. Ela nasceu com o propósito de fortalecer a união dos povos originários, articular as organizações indígenas das diferentes regiões do país contra as ameaças e agressões aos direitos dessas populações.
Nosso modo de lutar
O documentário “Nosso modo de lutar”, filmado durante o 20º ATL pela perspectiva de três cineastas indígenas, Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó, em colaboração com o Programa Povos Indígenas no Brasil do ISA, será exibido durante a mobilização. O trabalho reúne depoimentos de cerca de 50 representantes de povos indígenas presentes no ATL de 2024, em sua maioria mulheres, e expõe as diversas maneiras de resistir e barrar retrocessos.
Programação
A semana de ATL está dividida em plenárias, marchas, diálogos e atividades culturais nos eixos: APIB Somos Todos Nós (segunda), Resistência e Conquista (terça), Desconstitucionalização de Direitos (quarta), Em Defesa do Futuro – “A Resposta Somos Nós” (quinta) e Fortalecendo a Democracia (sexta). Confira a programação abaixo:
07/04 | Segunda | APIB Somos Todos Nós
08h – 10h | Boas Vindas, acordos de Convivência, informes gerais e Programação
10h – 12h | Apresentação das delegações Indígenas
14h – 16h | Plenária “APIB | Somos Todos Nós: Em defesa da Constituição e da Vida”
16h – 18h | 20 anos da Apib: Desafios atuais e novas estratégias de luta
19h – 22h | Noite Cultural – Documentário de 20 anos da Apib
08/04 | Terça | Resistência e conquista
- 08h – 09h | Apresentação das delegações e Concentração para a marcha
- 09h | Marcha “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda!”
11h | Sessão Solene no Plenário da Câmara dos Deputados “21ª edição do ATL e 20 anos de APIB”
14h – 16h | Plenária “Memória, Verdade, Reparação e Justiça: Por uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV)” - 16h - 16h30 | Exibição de Documentário “O Chamado do Cacique: Herança, Terra e Futuro”
- 16h30 – 18h | Plenária “Territórios Indígenas: Conflitos, Diagnóstico e Perspectivas”
- 19h – 19h30 | Ato contra a violência dos povos indígenas
- 19h – 22h | Noite Cultural
09/04 | Quarta | Desconstitucionalização de Direitos
- 08h - 12h | Diálogos Temáticos nas Tendas das Organizações Regionais
09h - 12h | Plenária Nacional de Saúde Indígena: Transição, Resistência e Protagonismo
11h - 12h30 - Mesa “Quem faz as organizações de mulheres indígenas?”, Tenda da Anmiga
14h – 16h | Plenária “O Acordo sem Voz: A Câmara de Conciliação no STF e a Reconfiguração da Política Indigenista no Brasil”
16h – 18h | Plenária “Por uma transição energética justa para todos os povos”
18h – 18h30 | Apresentação de Pesquisa sobre Petróleo e Gás na região de abrangência da APOINME
19h – 22h | Noite Cultural – Ato “Memória, Justiça e Resistência Indígena LGBTQIA+” - 10/04 | Quinta | Em Defesa do Futuro – “A Resposta Somos Nós”
- 08h – 12h | Diálogos Temáticos nas Tendas das Organizações Regionais
13h30 – 14h | Apresentação das delegações e Concentração para a marcha
14h – 16h | Plenária “A resposta Somos Nós: Povos Indígenas rumo à COP 30” e Lançamento da Comissão Internacional Indígena para a COP 30
16h – 18h | Marcha “A Resposta Somos Nós”
19h – 22h | Noite Cultural
11/04 | Sexta | Fortalecendo a Democracia
08h – 12h | Diálogos Temáticos nas Tendas das Organizações Regionais
14h – 18h | Plenária política com lideranças Indígenas
18h | Plenária e Leitura de Documento Final do ATL
19h – 22h | Noite Cultural
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Estudo inédito do ISA também mostra que as TIs nesses biomas estão 31,5% mais preservadas do que fora, ressaltando a importância da proteção territorial
Estudo inédito do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que as Terras Indígenas (TIs) nos biomas Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal continuam 31,5% mais preservadas do que as áreas ao redor, reforçando a importância da demarcação para a recuperação ambiental.
O levantamento destaca que as Terras Indígenas nesses biomas perderam, em média, 36,5% de sua vegetação original. O desmatamento ocorreu principalmente antes da regularização dos territórios. Após a demarcação, houve um aumento significativo na regeneração da vegetação, evidenciando a eficácia das estratégias indígenas de manejo.
Em comparação com o bioma Amazônia, onde apenas 1,74% da vegetação original das TIs foi suprimida, o Pampa apresenta o maior impacto nessas áreas: 62,5% de sua vegetação nativa foi desmatada.
O cenário apresentado no estudo reforça demandas centrais do movimento indígena nacional, que se reúne a partir do dia 7 de abril, em Brasília (DF), na 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) – maior mobilização indígena do país e espaço importante de luta e afirmação de direitos.
Uma das principais reivindicações é a demarcação e proteção integral das TIs para barrar o desmatamento e outras pressões e ameaças, como a grilagem, o garimpo e o roubo de madeira. Essas atividades predatórias também agravam as mudanças climáticas, liberando carbono armazenado nas florestas e contribuindo para o aquecimento global.
Veja a situação por bioma:
Caatinga
A Caatinga tem enfrentado pressões históricas com o avanço da agricultura e da pecuária. No entanto, as TIs têm mostrado uma grande capacidade de recuperação ambiental no bioma.
Segundo o estudo, 85% dos territórios foram delimitados só após 1990 e, até 2023, eles perderam 28,8% de sua vegetação original. Embora isso represente uma perda significativa, as áreas fora das TIs estão, em média, 51% mais degradadas.
Desde 1996, a extensão em recuperação, convertida em vegetação secundária, é, em média, 50% maior do que aquela desmatada. Além disso, 38,8% das TIs da Caatinga tiveram um ganho positivo na relação entre regeneração e supressão.
Mata Atlântica
A Mata Atlântica é um dos biomas de maior biodiversidade do mundo, e o mais ameaçado do país. Por outro lado, embora igualmente pressionadas por conflitos fundiários e atividades ilegais, as TIs desempenham um papel essencial na conservação das florestas remanescentes, especialmente para alguns ecossistemas sob maior risco, como as florestas de araucárias no Paraná.
Mais de 90% do desmatamento nas TIs da Mata Atlântica ocorreu até 2000. Contudo, a demarcação das áreas têm se mostrado muito eficaz na recuperação ambiental do bioma. Após a década de 1990, quando mais de um quarto dos territórios foi regularizado, 50% das áreas tiveram ganho positivo na regeneração da vegetação.
Pampa
O Pampa também é bastante pressionado pela expansão da agricultura e da pecuária. Em contraste, as TIs têm apresentado taxas de desmatamento muito mais baixas nos últimos anos. Até 1988, o bioma possuía apenas dois territórios com a demarcação concluída. A maior parte foi regularizada após os anos 2000.
A recuperação de vegetação secundária nessas áreas foi 41% maior do que a perda de vegetação nos últimos 29 anos. Isso demonstra a resiliência das áreas protegidas e a eficácia das estratégias indígenas de manejo do território.
Pantanal
Embora a recuperação da vegetação nos territórios enfrente desafios, eles continuam a ser as mais preservados, com a vegetação original sendo 4,5 vezes mais preservada em comparação às áreas ao redor no bioma.
O desmatamento no Pantanal em TIs foi de apenas 4,7% da vegetação original. No entanto, a TI Kadiwéu foi responsável por 67% do total desmatado dentro das TIs do bioma, refletindo a necessidade urgente de desintrusão, monitoramento e proteção efetiva desse território.
Recomendações finais
O estudo traz em sua conclusão que a posse efetiva das Terras Indígenas é essencial para garantir sua integridade socioambiental. Segundo os pesquisadores, as políticas de demarcação, proteção e gestão devem ser integradas, considerando aspectos sociais, culturais e ambientais, já que a degradação ambiental, os conflitos e as invasões ameaçam os direitos e a segurança física dos povos indígenas.
Entre as medidas fundamentais para o controle do desmatamento em Terras Indígenas estão:
- - Promoção e execução de uma política pública de demarcação e efetivação da posse dos territórios pelos indígenas.
- - Valorização das estratégias indígenas de gestão, seja em planos de gestão ou outros instrumentos. Esses planos são fundamentais para garantir a autonomia, a sustentabilidade e os modos de vida tradicionais das comunidades indígenas.
- - Fortalecimento do monitoramento e fiscalização: o uso de tecnologias, como satélites para detectar desmatamento em tempo real, ajuda a combater atividades ilegais.
- - Apoio a iniciativas indígenas de conservação e restauração.
- - Fortalecimento de sistemas agrícolas indígenas. Esses sistemas agrícolas oferecem lições importantes para a agricultura moderna, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e degradação ambiental.
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